12º Capítulo.
- Um pouco antes de o Velho James partir, ele e o Rei Noyer atravessaram a pedra encantada, que nos diferenciava entre humanos e animais, para dar a mim e ao índio Itharo a missão de explicar sobre eles e também a mensagem do Rei. Nós traduzimos da forma como ele pediu no intuito de darmos ao Rei a possibilidade de falar diretamente com a sociedade como sempre foi o seu desejo.
Sobre o Rei
Olá, humanos!
Meu nome é Noyer. Sou um tigre criado em laboratório na Amazônia há mais de vinte anos por cientistas; um deles, vindo de uma comuna Francesa chamada Noyers-sur-Serein. Por esse motivo, me foi dado este nome.
Vim para este reino, que vocês chamam de Rio de Janeiro, junto com meus amigos índios, Chico, Itharo, Shaio e alguns animais, depois que esse laboratório foi fechado pela Justiça. Chico nos salvou e nos trouxe para a terra prometida. Aqui vivemos por dezoito anos próximos a vocês, mas não o suficiente para sermos vistos por todos; apenas por aqueles que enxergam além do que precisam ou do que lhes interessa.
Tornei-me o rei e governei durante muito tempo o Morro da Urca, de onde podíamos admirar o mar e os humanos que dele faziam parte. Eu, minha rainha - uma onça também criada e laboratório - e nossos amigos nascidos da mesma tecnologia da época vivemos nesse morro em profunda harmonia. Nossos filhos e nossos netos aprenderam a respeitar os iguais e os diferentes. Por esse motivo nossa sociedade tornou-se forte e única.
Durante estes últimos anos, tivemos alguns incidentes. Perdi um filho e outro desapareceu, o que nos deixou muito tristes. Mas minha rainha, que possui dons especiais, visualizou nosso filho desaparecido, Caió, em uma reserva militar. A partir desse dia, passamos a ter desejo de nos juntar ao nosso filho, mas não sabíamos como chegar a esse lugar até que José, um menino de rua, veio morar em nosso reino, trazido por um guardião - um cachorro gigante -, o Nathanael, a mando da rainha para protegê-lo .
Nós já sabíamos que o exército andava investigando algumas movimentações no Morro da Urca e, com a chegada de José, tínhamos esperança que ele fosse encontrado. Por esse motivo, passamos a instruí-lo para que nos ajudássemos a encontrar a reserva onde Caió estava sendo protegido.
José passou um ano conosco e conheceu o outro lado da vida que ele desconhecia. Conheceu amizade, respeito, igualdade e liberdade de cada ser que morava na Floresta do Morro da Urca. Muito nos honrou sua presença, pois pudemos tirar do coração de José toda raiva que sentia dos humanos que não o protegeram e também daqueles que não o enxergavam.
Apesar de José já ter vivenciado a bondade por meio de um amigo, o Sr. José, um militar aposentado com quem fez amizade em praça próxima ao morro da Urca, levou um tempo para entender que nem todos os seres são iguais.
Para os seres, sejam eles humanos ou “animais irracionais”, como vocês nos chamam, fica difícil enxergar bondade no próximo depois de vermos e assistirmos diariamente à maldade, ao egoísmo e à indiferença.
Como já disse antes, poucos humanos nos viram. E por que apenas esses nos viram? Porque tinham olhos para ver e observar tudo o que está à volta, porque não eram egoístas para ficarem olhando só para seus interesses, porque consideraram que deveriam nos respeitar e não nos temeram.
É assim que gostaria que a sociedade dos seres chamados “racionais” fosse em sua maioria. O mundo seria bem melhor.
Depois de um ano com o menino José, recebemos pelas borboletas uma mensagem de nossa amiga e protetora, Selena Yasmaya, jornalista do sul do Brasil, que dizia que José seria resgatado por pessoas importantes para ele e para nós do reino também.
Vieram o major Alberto, biólogo do Exército, e uma assistente social muito simpática de nome Ana. Ambos, quando jovens, eram praticantes de alpinismo. E esse foi um dos motivos pelo qual eles se uniram para subir o morro, cada um com seu objetivo.
Pensamos em facilitar a vida deles, mas, como Rei e conquistador, resolvi não enviar nenhum guardião à parte baixa para ajudá-los. Quando se tem um objetivo, não importam adversidades que se encontrará pela frente. É preciso ir em frente e não desanimar.
Esperei que esses dois novos amigos chegassem até a metade do Morro e só então enviamos os guardiões Nathanael, Nico e o menino José para mostrarem-lhes a passagem secreta.
Não vou contar aqui para vocês como foi esse encontro, mas posso lhes garantir que tudo deu certo no fim. José encontrou um lar e nós fomos ao encontro de Caió.
Quis contar essa parte para vocês no intuito de que entendam quem eu sou, mas também de que descubram e reflitam quem vocês, “humanos”, são de verdade. Então, pedi a Itharo e José que traduzissem e entregassem a vós minha mensagem.